Resumo
Este trabalho investigou as causas de morte de tartarugas-verdes (Chelonia mydas) no litoral do Espírito Santo entre 2018, 2020 e 2024, a partir da análise de necropsias registradas em bancos de dados oficiais. O foco principal foi identificar e comparar as interações antrópicas que impactam esses animais, classificadas em níveis de severidade (leve, moderado e grave), associadas a diferentes tipos de ameaças, como pesca, colisões com embarcações, caça, vandalismo, agressão e ingestão de resíduos sólidos. A pesquisa analisou a variação das ocorrências em três períodos distintos: pré-pandemia (2018), durante o pico da pandemia de COVID-19 (2020) e pós-pandemia (2024). Observou-se uma redução nas interações relacionadas à pesca e à caça durante 2020, possivelmente em razão das restrições de circulação e da diminuição das atividades humanas no litoral. No entanto, o número de interações graves envolvendo resíduos sólidos aumentou significativamente no mesmo período, refletindo o maior descarte de materiais plásticos e equipamentos de proteção. Com a retomada das atividades humanas em 2024, houve um aumento expressivo nas interações de alta gravidade, especialmente nos casos vinculados à pesca e à caça, sugerindo intensificação das pressões antrópicas sobre as populações de tartarugas. As colisões com embarcações mantiveram baixa frequência, mas representaram impactos severos quando ocorreram. Os resultados destacam a importância do monitoramento contínuo, da fiscalização e da implementação de políticas de conservação que minimizem os impactos negativos das atividades humanas, garantindo a preservação dessas espécies vulneráveis.
Referências
- BAPTISTOTTE, C. Testudines marinhos (tartarugas marinhas). In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens: medicina veterinária. 2. ed. São Paulo: Roca, 2014. p. 259–270.
- BRASIL. ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Plano de ação nacional para a conservação das tartarugas marinhas. Santos: ICMBIO, 2011. 120 p. (Avaliação Chelonia mydas, Lista Vermelha IUCN 2023: e.T4615A247654386). Disponível em: https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2023-1.RLTS.T4615A247654386.en. Acesso em: 20 mai. 2025.
- CARVALHO, G. D. et al. A importância ecológica da conservação das tartarugas marinhas. In: Anais do II Congresso Brasileiro Interdisciplinar em Ciências e Tecnologias, Diamantina, MG, 2021.
- GERACI, J. R.; LOUNSBURY, V. Marine mammals ashore: a field guide for strandings. College Station, TX: A&M Sea Grant Publication, 1993. p. 43–78.
- KOPROSKI, L. et al. Perfil epidemiológico da fibropapilomatose em tartarugas marinhas encalhadas entre o litoral sul de Alagoas e norte da Bahia, Nordeste do Brasil. Arq. Ciênc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v. 20, n. 2, p. 49–56, abr./jun. 2017.
- LUTCAVAGE, M. E.; LUTZ, P. L. Diving Physiology. In: LUTZ, P. L.; MUSICK, J. A. (eds.). The Biology of Sea Turtles. Boca Raton, FL: CRC Press, 1997. p. 277–296.
- MARCOVALDI, M. Â.; MARCOVALDI, G. G. Marine Turtles of Brazil. 1999. Biological Conservation, v. 91, 35–41.
- PETROBRAS. Projeto Executivo do Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP BS) – Fase 1. Rio de Janeiro: Petrobras, 2014. 86.
- PRATA, J. C. et al. Increased plastic pollution due to COVID 19 pandemic: Challenges and recommendations. Chemical Engineering Journal, v. 405, 126683.
- PATRÍCIO SILVA, A. L. et al. The impacts of COVID 19 pandemic on marine litter pollution along the Kenyan coast. Marine Pollution Bulletin, v. 162, 111840.
- PRATA, J. C. et al. COVID 19 derived plastic debris contaminating marine ecosystem: alert from a sea turtle. Environmental Science & Technology / PMC, 2021.
- SOTO, E. H. et al. How does the beach ecosystem change without tourists during COVID 19 lockdown? Biological Conservation, v. 255, 108972, 2021. Disponível em: doi:10.1016/j.biocon.2021.108972. Acesso em: 25 de jan, 2025.
- WILCOX, C.; PUCKRIDGE, M.; SCHUYLER, Q. A.; TOWNSEND, K.; HARDESTY, B. D. A quantitative analysis linking sea turtle mortality and plastic debris ingestion. Scientific Reports, v. 8, n. 12536, 2018.